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Bianca, uma jovem que vive na Itália renascentista, está noiva de Giovanni, destinada a um casamento com uma família abastada que os seus pais lhe arranjaram. Mas descobre que as mulheres da sua família têm um segredo, uma “pele de homem” que lhe permite transformar-se em homem. Munida desse objecto mágico e transgressor, irá descobrir o mundo masculino fechado às mulheres da época, e na busca de conhecer aquele que lhe está prometido como marido, irá também descobrir o amor entre homens, bem como o seu desejo como mulher, e todas as alegrias, frustrações e tristezas que esse amor e esse desejo podem trazer...
Um dos mais aclamados romances gráficos franceses recentes, originalmente publicado em 2020, que acumulou um número impressionante de prémios no mercado francófono, mas que, apesar do seu êxito imenso, chegou ao mercado com um sabor amargo: tragicamente, o escritor Hubert pôs fim aos seus dias uns meses antes, terminando uma carreira brilhante e torturada, em que o autor nunca reconciliou completamente a sua origem, estritamente católica, e a sua homossexualidade crescentemente aceite, mas que sempre lhe deixou uma aura de “exclusão”, e de que Pele de Homem parece ser o manifesto, com um final que clama pela “aceitação” e por uma atitude de tolerância.
“Manifesto anti-homofobia”, segundo a France Inter, “percurso iniciático da sua protagonista” (BD Gest), convite aos leitores modernos para questionarem a sua época através do prisma de outra era, de acordo com a editora (Glénat), contendo “uma crítica social virulenta por trás das suas situações divertidas” (Télérama), Pele de Homem é uma das obras-primas da BD contemporânea.
Hubert foi uma das estrelas da BD francesa recente. Nascido numa família católica tradicionalista, que nunca tolerou a sua homossexualidade, sofreu por isso de uma depressão profunda durante a sua infância, depressão que sublimou nas obras que escreveu, em que colocou em cena “monstros e personagens marginais”. Iniciou a sua carreira escrevendo histórias para publicações mais independentes, mas rapidamente se tornou num argumentista de sucesso. Hubert suicidou-se pouco antes do lançamento de Pele de Homem, o seu maior sucesso de sempre. Frédéric Leutelier, aliás Zanzim, é um desenhador de BD francês, e um dos mais frequentes colaboradores do escritor Hubert. O seu estilo cartunesco, algo naïf, inspirado em autores como Quino ou Sempé, granjeou-lhe fama em álbuns diversos, mas foi com Pele de Homem que o público acabou por descobrir a riqueza da sua obra.
“Mas que se desengane a/o leitor/a: Pele de Homem não é uma história previsível. Mas, ainda assim – ou talvez justamente por essa razão – consegue essa proeza sublime de nos lembrar que esta é, afinal, a história de cada um/a de nós.”
Ana Cristina Santos, in Prefácio (Ana Cristina Santos é uma das principais especialistas nacionais em estudos de género, e investigadora principal no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.)
Pele de Homem venceu os seguintes prémios: Grande Prémio RTL de BD, Prémio de BD do jornal Le Point, Prémio Landerneau 2020, Grande prémio ACBD da crítica de BD francófona, Prémio das Livrarias de BD, e Prémio dos Jovens no Festival de Angoulême. Este livro beneficiou de um apoio do Programa de Apoio à Edição do Instituto Francês, e foi a obra seleccionada para representar a França na Noite da Literatura Europeia em Lisboa, 2022, uma iniciativa da Representação da Comissão Europeia em Portugal, que transforma a capital portuguesa numa babel europeia com a apresentação de obras de treze países.